sexta-feira, fevereiro 8

Manuel Alegre e o PS

Nem sempre estive de acordo com Manuel Alegre. Em muitas ocasiões estive mesmo contra a sua forma de pensar e de agir. Mas num ponto estou de acordo com ele: "Aquilo a que se pode chamar o aparelho partidário, que são as estruturas, os que estão à frente da direcção nacional, das direcções intermédias, das federações, nas autarquias. Isso é um muro perfeitamente impenetrável."
Isto é verdade, mesmo no tempo em que Manuel Alegre tinha mais protagonismo no PS, isto é verdade em todos os partidos.
Este muro existiu sempre, não é novidade. Quem dirige os partidos, tem uma tendência natural para replicar em todas as estruturas partidárias uma lógica de pensamento único. O que é mau, porque esta lógica limita a possibilidade de discussão dos problemas e afasta os quadros que não estão para replicar o pensamento instituído.
Os partidos quando estão no poder rapidamente esquecem os militantes, quando não raras vezes esquecem a sua base eleitoral de apoio. A entrevista de Carlos Carreiras, líder da distrital de Lisboa do PPD/PSD, onde afirma que Cavaco Silva (enquanto líder do partido) foi responsável pela ausência de debate político no partido e vai mais longe: "Cavaco Silva destruiu o PSD".
Não devem querer os actuais dirigentes do PS a uma situação como esta. Sócrates não pode ser um eucalipto, secando tudo à sua volta, evitando o debate político.
Manuel Alegre não parece disposto a avançar com a criação de um novo partido. Eu não posso estar mais de acordo com ele. Para que serviria um novo partido?
Em primeiro lugar para dividir o eleitorado do PS (criando um efeito PRD) e em segundo lugar para colocar a direita no poder e pela primeira vez dar razão ao slogan de Sá Carneiro (Um Governo, Um Presidente), ou seja, a direita no Governo e na Presidência.
A divisão do eleitorado do PS, colocaria o país nas mãos de Menezes o tal que precisa apenas de 6 meses para desmantelar o Estado e de Santana o pior primeiro-ministro de que temos memória.
Esperamos todos, os eleitores, por um debate liderado por Manuel Alegre que traga para as primeiras páginas soluções alternativas que possam ser confrontadas com a política do governo. O debate não faz mal a ninguém, e desde que seja baseado em políticas alternativas muito menos.
Para a existência de um debate esclarecedor na Esquerda, alguns temas têm que estar obrigatoriamente sobre a mesa: Papel do Estado (quais as funções que devem permanecer, quais aquelas que podem ser concedidas a privados ou ainda quais aquelas que podem ser privatizadas, tudo isto numa análise custo-beneficio que não pode ser esquecida sob pena de estarmos a discutir no vazio); as restrições de natureza orçamental colocam grandes desafios à esquerda (como governar com um défice controlado, mantendo políticas sociais e de integração de todos aqueles que passam por dificuldades); que política de crescimento económico e quais os sectores fundamentais para o crescimento (num mundo global em que não vale a pena lutarmos contra o processo imparável da globalização); políticas sociais e de saúde (que garantam a maximização dos serviços e a minimização dos custos); etc.
Só falta dizer como e avançar com o debate. A Esquerda espera por ele. Os eleitores também.

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