quinta-feira, maio 29

As várias esquerdas

As "várias esquerdas" vão realizar um comício-festa no dia 3 de Junho no Teatro Trindade. E quem são as "várias esquerdas": Manuel Alegre e mais personalidades do PS, o BE em peso e alguns renovadores comunistas (não se percebe bem o que é isto de ser renovador comunista, mas eles lá sabem).
Visto assim parece que as "várias esquerdas" têm uma preocupação genuína com os problemas do país e dos portugueses, mas será que é mesmo assim?
Eu tenho algumas dúvidas, e é sobre estas que gostaria de reflectir. O que é ser de esquerda e acima de tudo qual o projecto das "várias esquerdas" para a resolução dos problemas que a Europa e Portugal enfrentam?
As "várias esquerdas" são a esquerda velha, com as mesmas velhas soluções de sempre. As "várias esquerdas" não são capazes de trazer soluções novas, e que falta fazem novas soluções na esquerda para enfrentar a crise. Precisamos algo de novo, algo em que a esquerda, as várias e todas as outras se possam rever. Um novo projecto.
Como é que alguém, BE, que é um contrapoder, que foge do poder como algo que os pode queimar, pode trazer algo de novo para a esquerda? Não compreendo.
Como é que alguém que se diz renovador comunista pode transportar alguma coisa de interessante para a esquerda? Alguém que aceita o comunismo, admitindo que este possa ser renovado, é a mesma coisa que todos nós passarmos a acreditar no Pai Natal.
Por tudo isto não se percebe o que fazem algumas personalidades do PS, incluindo Manuel Alegre, neste ramalhete das "várias esquerdas". O único partido que está em condições de fazer o debate da esquerda é o PS. Se existem, hoje, condições internas para o debate é outra questão.
A "esquerda moderna", está com a Europa, com os prinicípios da Liberdade e da Democracia, não aceita qualquer limitação ao exercício dos direitos por parte dos cidadãos, mas acrescenta a este exercício livre dos direitos um conjunto de deveres. A esquerda moderna está com as causas fracturantes e acredita que todos podemos e devemos ser felizes (homossexuais, heterossexuais, lésbias, transexuais, etc.).
A "esquerda moderna" acredita nos valores do mercado e na regularização do mesmo através de entidades de controlo. A esquerda moderna acredita que um mercado perfeito é melhor para todos que situações de monopólio do Estado ou de Privados. A concorrência é estimulante para as empresas e um ganho para os consumidores.
A "esquerda moderna" tem que recorrer aos instrumentos de transferências sociais de forma a reduzir as desigualdades, estes instrumentos são mais importantes em momentos de crise económica, mas a utilização destes instrumentos tem que ser feito de uma forma que permita o seu controle e a sua eficácia. Não basta transferir é preciso medir a sua eficácia.
A "esquerda moderna" tem que apostar na Agenda de Lisboa, melhorando a competitividade das empresas e aumentando o nível de formação dos trabalhadores. Só empresas competitivas que apostem em mão de obra qualificada têm futuro. Qualquer aposta numa política de baixos salários e de baixa formação está condenada ao fracasso. Há quem, no mundo da globalização, faça isto melhor que Portugal e a Europa.
A "esquerda moderna" quer um sistema de saúde para todos, mas tem uma noção clara que só o combate ao desperdício, a concentração de meios e uma melhor gestão do sistema pode permitir que a saúde para todos seja uma realidade. Por isso, e para isso, é preciso um combate às corporações existentes na área da saúde. Este é um combate sem tréguas.
A "esquerda moderna" defende a rede pública de ensino, como um instrumento essencial de combate às desigualdades sociais. Uma escola para todos e todos na escola. Colocar uma maior racionalidade no sector é vital para o seu desenvolvimento. Um aumento da exigência para com a classe docente e um aumento da responsabilidade dos alunos é, sem dúvida, um factor crítico para o futuro. Menos escolas (a taxa de natalidade obriga a esta racionalização), melhores escolas é o caminho. Criação de uma rede pública de pré primário e creches é prioritário, para que todos possam frequentar os vários níveis de ensino.
A "esquerda moderna" está com a Europa (tal como a Europa esteve connosco). Não há solução para Portugal sem o espaço onde pertencemos por direito. Estamos num dos maiores mercados do mundo e temos que aproveitar esta potencialidade.
A "esquerda moderna" tem que lutar pelo domínio do poder político sobre o económico. Esta questão pode tornar-se vital. Quem deve mandar é que é eleito e sujeito a julgamento por parte dos seus concidadãos. Por isso importa fazer uma reflexão sobre a política monetária da UE em especial do Banco Central Europeu. A prioridade dada à taxa de inflação faz sentido. Não esquecer que o crescimento dos preços corresponde a uma aumento das desigualdades e afecta quem é mais pobre. Mas é necessário dar prioridade ao crescimento económico pois sem este não há redução do desemprego e criação de riqueza.
A "esquerda moderna" quer um mercado de trabalho mais flexível, e quer igualmente mais segurança. Se a isto se chama flexisegurança, assim seja. O que não vamos ter é o mesmo emprego para toda a vida, isto é certo. Logo o que não deve faltar é segurança quando ele nos falta. Para isto o Estado tem que fazer busca activa de emprego e formação profissional tendo em conta as necessidades do mercado.
Por tudo isto não percebo "as várias esquerdas", sobretudo aqueles que saíram do PCP e dos outros do BE, que não trazem nada de novo para o debate sobre a esquerda, que se quer moderna e europeia, convicta da força do mercado e de um Estado ao serviço dos cidadãos e das empresas.
A "esquerda moderna" não renega o passado, e sobretudo não deve ter saudades. A "esquerda moderna" deve ter saudades é do futuro.

1 comentário:

NOCA disse...

Parabens e apoiado! Um bom post e bom contributo para a discussão do estado actual da crise!