quarta-feira, maio 30

O PCP e a Greve Geral

Durante os últimos dois dias li o livro de Raimundo Narciso (Álvaro Cunhal e dissidência da terceira via). Ao ler o livro não me esqueci que se aproximava uma Greve Geral convocada pela CGTP.
Raimundo Narciso não era uma pessoa qualquer na estrutura dirigente do PCP. Foi dirigente da ARA (Acção Revolucionária Armada) que era o braço armado do PCP, viveu durante 10 anos na clandestinidade, foi membro do Comité Central do PCP. Foi expulso em 1991 do partido.
O livro fala-nos do "centralismo democrático" forma que os partidos estalinistas encontraram para justificar a existência de uma direcção que tudo controla e em que os níveis de debate, que parecem amplos e abertos, estão reduzidos a zero.
A estrutura máxima do PCP, o Comité Central, pela sua composição, era uma estrutura de funcionários do próprio partido, sem vozes independentes e obedecendo cegamente às ordens de Álvaro Cunhal, como agora devem obedecer a Jerónimo de Sousa e antes a Carlos Carvalhas.
Os funcionários do PCP são pessoas que ganham mal, não lêem livros fora da cartilha, não vão ao cinema e vivem isolados da sociedade e do mundo (há um artigo brilhante do Vasco Pulido Valente, penso que escrito na revista K, sobre este assunto).
O livro retrata episódios caricatos, em que depois de Cavaco Silva ter ganho as eleições legislativas com maioria absoluta, os relatos dos membros do Comité Central iam no sentido de um amplo movimento de massas que há-de acabar por derrubar o governo.
Tem isto tudo a ver com a entrevista que Carvalho da Silva deu ao Correio da Manhã sobre a Greve Geral de hoje.
Quando o jornalista o questiona sobre o sentido de voto na comissão executiva da CGTP, Carvalho da Silva diz que não houve votos contra a Greve Geral e que apenas houve discordância quanto ao nome que esta "jornada de luta", e aí afirma: "...como acontece sempre em situações mais delicadas, optámos por fazer uma consulta a toda a estrutura, durante duas semanas e meia, e a opção generalizada foi a da greve geral.". O Comité Central do PCP também faz o mesmo, mas a posição já esta tomada. O debate é mera fachada.
Depois faz afirmações sobre este governo que podem ser decalcadas das afirmações que fez no passado sobre todos os outros governos. O PCP faz o mesmo, desde de 1975 que não há um governo bom neste país, tudo é mau. Podemos ver os documentos do PCP sobre cada um dos governos e basta mudar os nomes para que eles se mantenham sempre actuais.
As estruturas sindicais não são diferentes da estrutura de funcionários do PCP, ou seja, mal pagos e em função disto, incapazes de lidar com a sociedade e o mundo. Onde vêm três trabalhadores em greve, os dirigentes sindicais vêm uma greve geral. Na prática reproduzem aquilo que a sua estrutura central quer ouvir.
Na entrevista ao Correia da Manhã, Carvalho da Silva, afirma: "...é que em Portugal não há liberdade sindical.". Onde é vive Carvalho da Silva? Não há liberdade sindical em Portugal? Então há onde? Em Caracas ou em Havana?. Como pudemos sempre confirmar esta acusação de falta de liberdade não é nova, já foi feita no passado e a outros governos.
Por tudo isto é que a leitura do livro de Raimundo Narciso me levou à CGTP e à Greve Geral, é que não podemos ignorar que esta estrutura sindical é a estrutura sindical do PCP. E este não dorme em serviço.

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