sexta-feira, abril 18

Como remover Menezes

É raro, mas acontece, hoje estou totalmente de acordo com o artigo de Vasco Pulido Valente no Público, por isso o reproduzo na totalidade. Apesar de ter sido escrito antes da demissão de Menezes mantém toda a actualidade.
A grande consequência do "caso" Fernanda Câncio foi que o PSD se mostrou como um partido não só dividido e comandado por uma direcção delirante, mas também como um partido pouco respeitável. A linguagem violenta usada para condenar Rui Gomes da Silva e o indivíduo Ribau não se limita a reflectir indignação (de resto, inteiramente justificada), afirma a diferença entre quem fala e "aquela gente". A política ainda tenta preservar uma certa dignidade e a classe média alguma decência. Não sei que meios frequentam as luminárias do actual PSD. Um ponto é certo: o PSD excedeu a tolerância do português comum. "São coisas que não se fazem", como se costuma dizer, e quem as faz paga o preço de uma reprovação moral, difícil de apagar ou diminuir.
Há hoje uma hostilidade geral ao partido, que o militante médio e muitos dirigentes que não perderam a cabeça sentem e percebem. Enquanto Santana Lopes, definitivamente perdido para a realidade, vê na maioria de Berlusconi a vingança do populismo e o prenúncio da sua própria ressurreição, outros, como Mota Amaral, procuram um cantinho de sombra ou, como Arnaut, não hesitam em reprovar Menezes, porque o mundo não acaba amanhã. Infelizmente, Pedro Passos Coelho e José Pedro Aguiar Branco preferiram apresentar a sua candidatura à presidência do PSD. Na aparência, o cálculo parece razoável. Não é. Primeiro, porque reforça o espírito de bunker de Menezes. Segundo, porque uma a uma, isoladamente, Menezes pode ainda resistir a qualquer ameaça.
As famosas "bases" já compreenderam que por este caminho não ganham em 2009. Mas sabem com certeza que seis meses de agitação e querelas de personalidades não as levam a nada. Nesse capítulo, bastam as lições do passado recente. A única maneira de remover Menezes (com toda a sua trupe) é uma condenação absoluta e solene das grandes figuras do PSD "histórico" e o compromisso de cada uma delas de que servirão incondicionalmente o partido, seja em que lugar for ou sob quem for. Enquanto os "notáveis" não demonstrarem um módico de humildade e boa-fé e persistirem em "estratégias" de puro interesse pessoal, ninguém acreditará neles. Pelo contrário, um apelo conjunto à "salvação colectiva" é persuasivo e chega para enterrar Menezes. Quanto ao "chefe", virá por si.
N.R. - Esta crónica foi escrita antes da demissão, anunciada ontem à noite, de Luís Filipe Menezes.

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